
Na Terra Indígena (TI) Araribóia, no município de Amarante do Maranhão (MA), mulheres do povo Guajajara estão se unindo em ações coletivas que promovem a conservação ambiental e o fortalecimento de suas comunidades como parte do Projeto Mulheres Guajajara: Proteção da Floresta e dos Saberes. O trabalho é desenvolvido em parceria entre a Associação Comunitária Nairuy-Taw, da TI Araribóia, e o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), em quatro aldeias – Chupé, Lagoa Quieta, Novo Funil e Bezerra – e tem foco na valorização do protagonismo feminino para garantir a proteção do território coletivo. A iniciativa recebe apoio do Projeto Floresta+ Amazônia, no âmbito da Modalidade Comunidades.
A iniciativa do povo Guajajara e do ISPN faz parte dos 40 projetos apoiados por meio da Modalidade Comunidades, que tem por objetivo apoiar projetos locais, elaborados de maneira participativa, para o fortalecimento da gestão ambiental e territorial nos territórios coletivos de povos indígenas e povos e comunidades tradicionais.
Entre as ações do projeto, estão atividades de implantação de agroflorestas, criação de galinheiros e construção de viveiros. A restauração é também um dos itens principais da iniciativa, tendo a segurança alimentar da comunidade e autonomia da comunidade. Nesse sentido, as áreas produtivas vão fornecer também alimento para as aves.

As comunidades participaram de formação sobre avicultura e manejo sustentável de galinhas, como a construção de galinheiros e viveiros de mudas. Espera-se ainda que a expansão dos sistemas agroflorestais seja uma importante etapa de recuperação da cabeceira do Rio Buriticupu, que margeia o entorno das comunidades.
Vida no rio – As mulheres também estão envolvidas em atividades de formação em medicina tradicional e arte indígena. Todas conduzidas pelas mestras anciãs das comunidades. “Essas ações são feitas há muito tempo por nós, mulheres Tenetehara, em nosso território, mas quando nos organizamos em um coletivo como esse, ganhamos mais potência e nos articulamos melhor, principalmente para manter a vida de um rio tão importante para nós, que é o Rio Buriticupu”, destacou a liderança indígena, professora, artesã e coordenadora local do projeto, Marina Guajajara.

Para o povo Guajajara, principalmente as mulheres, a vida do Rio Buriticupu significa a continuidade dos saberes ancestrais e de todo o ecossistema do qual depende sua sobrevivência. “O que nos fortalece é a garantia do nosso alimento e a garantia de uma terra que continua falando sua língua materna, de um povo que continua usando seus cantos e fazendo suas festas. O indígena sem o rio sofre, quando vejo que vamos reflorestar a nascente do Rio Buriticupu, lembro do quanto esse rio era saudável e forte, com muito peixe, sem veneno”, explicou a cacica, parteira e liderança indígena, Maria Santana da Silva.
O Rio Buriticupu nasce na Serra do Tiracambu, em Amarante do Maranhão, sendo o principal afluente do Rio Pindaré, percorre territórios da Amazônia maranhense, abastece nascentes e sustenta a biodiversidade. Ele é uma fonte de vida e de alimento, sendo um elemento importante para a continuidade dos saberes ancestrais. Além disso, o rio tem grande relevância para os grupos indígenas em isolamento voluntário do povo Awá Guajá, que dependem das águas, das matas e dos ciclos naturais dessa região para garantir sua sobrevivência e manter seu modo de vida tradicional, livre de interferências externas.
Gestão – Outra parte importante é a formação em gestão de projetos, para ampliar a autonomia das mulheres e fortalecer a gestão territorial da TI Araribóia. Dois módulos da formação em Gestão de Projetos já foram realizados, com o último módulo previsto para ocorrer na finalização do projeto ano que vem. O cientista ambiental e consultor do ISPN nesse componente, Marcos Pinheiro, ressalta que a abordagem das oficinas foi pensada justamente para desmistificar o tema, aproximá-lo do cotidiano e auxiliar a enfrentar um dos maiores gargalos das associações indígenas: a dificuldade com a prestação de contas.

“Trabalhamos com uma linguagem não indígena, um conhecimento ocidental, e o desafio foi traduzir isso de uma forma acessível, respeitosa e aplicável na realidade deles. Essas formações não só instruem a fazer a prestação de contas de um projeto específico, mas criam uma base para que as comunidades possam acessar novos editais e conduzir outras iniciativas no futuro, com mais segurança e independência”, completou o consultor.
Para a conselheira da saúde indígena e participante das oficinas, Lucimar Guajajara, a formação promovida pelo projeto trouxe aprendizados sobre as partes burocráticas que envolvem a gestão de um projeto. “Já estamos pensando nos futuros projetos, pois eles apoiam no empoderamento das associações na condução das iniciativas locais”, destacou.
Lucimar Guajajara completa que o Floresta+ Amazônia na TI Araribóia vem fortalecendo a autonomia das mulheres e atua diretamente na questão da recuperação da biodiversidade no território, que sofre pressões da pecuária e agricultura extensiva dentro e no entorno. “Hoje a gente sofre as consequências do desmatamento gerado pelos fazendeiros que prensam nossa TI. Afeta nossos rios, afeta o clima. Nossos filhos e netos não vão mais ver aquilo que perdemos, então nossa batalha é para recuperar. Um dia todos vão entender nossa luta, vão sentir falta das árvores e do ar”, enfatizou.
Parcerias – Outra fortaleza do projeto é também articular parcerias externas às aldeias, inclusive com o poder público e a academia. Entre as mais de 1.300 mudas de árvores já implantadas pelo projeto, 169 foram doadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Amarante do Maranhão e 500 pelo Viveiro Florestal, iniciativa ligada ao Consórcio Estreito de Energia (Ceste), à Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fapead) e à Universidade do Estado do Maranhão (UEMA). As mudas restantes foram produzidas no próprio território, sendo 131 mudas doadas pelo PrevFogo (Brigada Federal Indígena) e 150 foram produzidas por grupos das viveiristas, ambos da aldeia Juçaral, além de mais de 350 mudas que foram produzidas no viveiro da aldeia de Lagoa Quieta.

“No SAF, tivemos a preocupação de plantar árvores nativas do nosso território e importantes para o povo Guajajara, mas, também, tivemos o olhar de trazer algumas árvores que servem para a nossa alimentação e para a medicina indígena. Dentro do SAF, hoje, a gente consegue ver uma beleza de variedade de plantas e mudas de árvores. Já colhemos feijão e maxixe, teremos futuramente a mandioca e outros alimentos”, declarou Marina Guajajara.
O agroecólogo e consultor do ISPN para o projeto, na restauração produtiva e ecológica, Guel Bernucci, realiza com as mulheres oficinas sobre o tema e executa momentos práticos de plantio na implementação e manejo dos SAFs, que serão compostos ao todo por quatro hectares produtivos distribuídos nas aldeias — algumas partes com irrigação — e quatro hectares de restauração ecológica em áreas de nascente.
“Estamos trabalhando com cerca de 70 a 80 espécies diferentes, não só de árvores, mas de outras formas de vida não arbóreas, que também são chave nos Sistemas Agroflorestais. As mulheres já têm um trabalho com fitoterápicos, e agora estamos inserindo no sistema as espécies de interesse medicinal, além daquelas utilizadas para a alimentação, produção de artesanatos, usos tradicionais e ritualísticos, promovendo um resgate biocultural”, disse Bernucci sobre a biodiversidade e diferentes funções do sistema.
“Trabalhamos em coletividade para termos o protagonismo em nossas histórias, para sermos visibilizadas em nossas comunidades”, definiu a professora e conselheira fiscal da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), Raymara Guajajara, sobre as ações estratégicas da articulação formada pelas indígenas no âmbito do projeto Mulheres Guajajara: Proteção da Floresta e dos Saberes.
Fonte: Assessoria de Comunicação do ISPN
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